OS HERÓIS DE HOJE

O mundo de hoje parece, às vezes, uma selva onde os demónios andam à solta, tantos são os atropelos contra a dignidade humana. Mas também abunda nele o heroísmo e de bondade, e sobram motivos para vivermos com alegria e com esperança.
Há tempos estatelou-se contra uma serra perto de Cagliari, na Itália, um pequeno avião Cessna 500, com seis pessoas a bordo. Essa equipa médica transportava um coração para transplantar.
A colheita do órgão tivera lugar no hospital de São Camilo, em Roma. A viagem começara às 5 da amanhã e tinha de ser rápida, porque um órgão desses não sobrevive mais de cinco horas desde que se extrai de um paciente até que se implanta noutro.
Não se sabe exactamente o que sucedeu. Alguém confessou ter visto uma bola de fogo na direcção da montanha.
Fosse como fosse, morreram todos: “os nossos heróis de hoje em dia” – declarou o Presidente da Itália.
Falando de este caso, Francisco Musumeci, médico de cinquenta anos, afirmou: “Participei em centenas de transplantes de coração. É sempre uma corrida contra o tempo. Durante a viajem de avião ou de helicóptero, muitas vezes tive medo de morrer, sobretudo por causa do mau tempo. No entanto, nestes casos, basta pensar no doente que vamos salvar para que o medo logo desapareça. É difícil aceitar a morte dos médicos que iam na avioneta, mas também é difícil esquecer os rostos dos doentes que morrem à espera de um órgão. Perante aqueles rostos, como se pode deixar de arriscar a própria vida? Nem a sonhar eu mudaria de profissão. O sorriso de um paciente salvo não tem preço”.
Campeões do amor ao próximo como estes encheriam muitos livros. O padre Oreste Benzi é outro caso fascinante. Uma espécie de avozinho que, aos oitenta anos, continua firme no seu intento de salvar as escravas da prostituição e da droga.
Tudo começou em 1968 quando visitava um albergue para 400 doentes e um rapaz tetraplégico lhe gritou do fundo da alma: “Tire-me daqui; eu também quero viver”. “Foi como se ouvisse a voz de Deus” – conta o padre Benzi.
Assim nasceram as “Casas de Família” para toxicodependentes. Já existem cerca de 250, espalhadas por 20 e tal países.
As prostitutas chamam-lhe “papá”. E um pai, se tem um filho ou uma filha que anda de noite pela rua, pode ver a televisão ou deitar-se descansado?
Não há semana em que o padre Benzi não vá procurar algumas dessas meninas, nas discotecas ou nas ruas, com risco da própria vida. Muitas delas andam nessa vida por causa da miséria ou das ameaças de quem as explora. Uma delas suplicava a João Paulo II: “Papa, liberta as raparigas. A vida na rua é feia e nojenta. Fui violada aos 12 anos. Agora estou com Sida”..
Uma das iniciativas do padre Benzi foi a adopção de prostitutas: “Que cada paróquia adopte uma delas e a ajude; já temos mais de 300 adoptadas”. Dá-lhes casa, alimentação, trabalho, um pequeno salário.
No ano 2001 celebrava-se, em Assis, o Encontro de todas as religiões. O Papa seguia no seu “papamóvel” quando avistou o padre Benzi. Daí a pouco, o secretário pontifício chama por ele e manda-o subir e sentar-se junto do Papa. Este pegou-lhe nas mãos e disse: “Continua, continua…”
De onde tira o padre Benzi tamanha caridade e coragem? – “Dos joelhos…”, ou seja, da oração. “Por vezes tenho medo. Já me vi perante uma pistola. A coragem não consiste em não ter medo, mas em vencer o medo com um amor mais forte. É possível fazer o que eu faço, desde que tenhamos um coração puro e o nosso olhar se encontre sempre, não com o pecado, mas com um irmã ou uma irmã”.

Abílio Pina Ribeiro, cmf

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