O que entendemos por liderança discernente? De onde vem e porque é que a Igreja fala tanto dela agora?
A expressão “liderança discernente” é uma tradução literal do nome do programa formativo “Discerning Leadership”, que uma equipa multidisciplinar ligada à Companhia de Jesus lançou em Roma há alguns anos e no qual tive a sorte de participar. O objetivo deste programa é apoiar pessoas em cargos de autoridade e responsabilidade na Igreja, ajudando-as a desenvolver as suas capacidades como líderes, administradores e gestores, com especial atenção ao discernimento e ao caminho sinodal da Igreja.
Num contexto cultural marcado pela volatilidade, pela incerteza, pela complexidade e pela ambiguidade (VICA), é necessário um tipo de liderança que ajude as pessoas e os grupos a discernir o essencial do acidental, a não sucumbir à pós-verdade ou à polarização, e a fundamentar em valores éticos o exercício da autoridade. No caso das comunidades eclesiais, este discernimento procura ainda iluminar, a partir da pessoa de Jesus e do Evangelho, as complexas situações que estamos a viver hoje, tendo sempre em consideração o momento sinodal da Igreja. Não se pode ser líder hoje com uma mentalidade piramidal e autoritária.
O que isto tem a ver com a nossa vocação como missionários?
Acredito que tem muito a ver. Somos chamados a caminhar com comunidades cristãs de vários tipos: paroquiais, educativas, missionárias, entre outras. Partilhamos com elas a incerteza e a complexidade que caracterizam o momento atual do nosso mundo. O desafio é exercer um tipo de acompanhamento “discernente” que se inspire em Jesus e na sua forma de liderar a partir do serviço e da entrega; que integre a melhor tradição eclesial e congregacional (Claret é um excelente exemplo de liderança próxima e compassiva); e que incorpore as contribuições recentes das ciências humanas que estudam o tema da liderança.
Como podemos acompanhar as pessoas nas diferentes posições da nossa província e com quem partilhamos a missão? Quais são as oportunidades e as tentações?
Acredito que a Província de Fátima fez um grande esforço ao organizar workshops regionais (no Reino Unido, em Portugal e em Espanha, e em breve no Zimbabué) para todos os seus membros. Estes workshops de três dias oferecem orientações e ferramentas que podem ser utilizadas eficazmente nas comunidades e nos serviços pastorais. Agora, o desafio é aprofundar os temas essenciais e, sobretudo, envolver – com uma renovada consciência de “missão partilhada” – o maior número possível de leigos com responsabilidades na vida missionária da província. O essencial para todos é captar a urgência de uma nova liderança para este novo tempo de sinodalidade que estamos a viver na Igreja. Sem líderes preparados, corremos o risco de colocar o vinho novo da sinodalidade em odres velhos de uma liderança demasiado clerical ou rotineira.