Bate à tua porta

O evangelista João escreveu uma das frases mais famosas da história humana: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Na esfera do mundo onde os filhos e as filhas do homem acampam, Deus abriu caminho entre as sombras e colocou o seu Verbo entre panos. Desde o seu primeiro Natal que Ele peregrina incógnito de casa em casa, batendo a cada uma das nossas portas para que o convidemos para a nossa mesa e possamos partilhar as suas misteriosas riquezas. Precisamos de olhos novos para o reconhecer, uma vez que tem o hábito de viajar sempre incógnito e de parecer sempre…outro.

Deus podia obrigar os seres humanos a obedecer como fazem os girassóis que se movem buscando mecanicamente a luz do sol. Mas precisamente porque ele não nos criou como girassóis, mas fez-nos livres, Ele está disposto a que lhe digamos “não” quando ele bate à nossa porta e inclusivamente a rejeitá-lo de um mau modo e com voz alta. Já lhe aconteceu antes de nascer: “Veio para o que era seu e os seus não O receberam” (Jo 1, 11)… “porque não havia lugar” (Lc 2, 7). As nossas canções de Natal ainda o refletem:

Mãe, à porta está um Menino

mais bonito que o belo sol.

Parece estar com frio

porque vem meio nu.

A porta mantém um grande valor simbólico não só no Natal. A ela vêm bater também hoje mendigos, estrangeiros e conhecidos, procurando talvez apenas um pouco de compreensão e de calor. Infelizmente, talvez com alguma razão, tornámo-nos desconfiados, blindámos as portas e reagimos com desconfiança. Temos mais tendência para nos envolvermos em assuntos demasiado importantes – ou assim pensamos – do que para prestar atenção a desconhecidos. E assim, muitas vezes ignoramos o que Ele está a passar, escondido sob os disfarces daqueles que batem à porta da nossa vida.

O mais grave é que essas portas fechadas também fecharão, provavelmente, as portas do nosso interior: resistências, preconceitos, cautelas, medos… Pressionados pelas nossas supostas e incontáveis ocupações asseguramos que não temos alojamento… nem para nós próprios!

Devíamos aprender com a tradição judaica. Os bons judeus deixavam a porta da sua casa entreaberta durante a ceia pascal, para que, se o Messias viesse, encontrasse a sua porta aberta e acolhedora; e se não viesse, para que um pobre homem pudesse entrar, trazendo a mesma luz que o Messias.

 

Juan Carlos cmf

(FOTO: Jan Tinneberg)

 

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