14ª edição das Conferências Quaresmais no Santuário do Coração de Maria

Sob o lema ‘Abrace o presente’. Juntos por um novo caminho”, as Conferências Quaresmais, agora na sua 14ª edição, realizam-se no Santuário do Coração de Maria (Carvalhos, Pedroso, Vila Nova de Gaia, Portugal). Até agora, 3 das 5 conferências previstas para este período já se realizaram:

 

1ª Conferência: Sínodo e Dia Mundial da Juventude. Por D. Manuel Linda, Bispo da Diocese do Porto.

As Conferências da Quaresma abriram a sua 14ª edição a 26 de Fevereiro de 2023, com uma palestra de D. Manuel Linda, Bispo da Diocese do Porto, perante uma audiência de mais de 200 pessoas. A sessão teve início com uma bela canção interpretada por Davide Barros. Depois, após uma breve introdução do orador por José Manuel Cruz, D. Manuel Linda iniciou o seu discurso.

A primeira parte da palestra centrou-se no caminho sinodal que a Igreja percorreu. Após uma breve revisão histórica da revitalização do Sínodo trazida pelo Concílio Vaticano II e continuada por sucessivos papas, D. Manuel Linda destacou o papel do Papa Francisco no alargamento da participação no Sínodo a todo o povo da Igreja e não apenas à assembleia sinodal e a certos especialistas. Prosseguiu salientando que isto eleva a ideia do “Povo de Deus”, uma vez que todos somos chamados à edificação e renovação da Igreja. Explicou também que a “sinodalidade” expressa a natureza da Igreja – a Igreja é o Povo de Deus – um povo que caminha junto, reunido numa assembleia convocada por Jesus e no poder do Espírito Santo para proclamar o Evangelho.

Continuando a sua reflexão sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, D. Manuel Linda começou por explicar que o Papa João Paulo II compreendeu que os jovens são “terra de missão” e que, para os envolver, a Igreja teria de ser festiva e alegre, pelo que, em 1985, promoveu a criação das primeiras Jornadas Mundiais da Juventude. Hoje, após tantas edições, nas quais participaram mais de um milhão de jovens em cada uma delas, reconhece-se que as Jornadas mudaram a face da Igreja, que esta é muito mais alegre e atraente do que antes, e que alimentam o seu carácter reformador. Toda a sociedade ficou um pouco abalada com a constatação de que os jovens continuam a ligar-se à Igreja e a procurar Jesus Cristo nela, guiados por uma grande empatia com o Papa. O Sr. Manuel Linda terminou o seu discurso expressando a esperança de que a salvação chegará aos muitos milhares de jovens que participarão nas Jornadas Mundiais da Juventude.

No final do discurso, Davide Barros cantou outra canção e, finalmente, o Padre Marçal Pereira, promotor das Jornadas da Quaresma, agradeceu ao convidado, aos colaboradores e a todo o público que tinha apoiado massivamente este evento.

 

2ª Conferência: O papel da mulher na Igreja. Pela Dra. Ana Maria Abreu

A segunda conferência quaresmal teve lugar a 5 de Março. A forte chuva que se fez sentir naquela tarde não foi suficiente para desencorajar a presença de cerca de 100 pessoas para ouvir a palestra da Dra. Ana Maria Abreu sobre o tema “O papel da mulher na Igreja”.

Como de costume, a palestra começou com um momento musical de Cristóvão Faria, cuja bela voz focou imediatamente a audiência no espírito do evento. Seguiu-se a apresentação do orador por José Figueiredo, que começou por felicitar o Padre Marçal, o promotor da série de conferências, pelo seu octogésimo aniversário. Prosseguiu com o enquadramento do tema e fez uma breve apresentação do curriculum vitae da oradora, destacando o seu papel como directora de recursos humanos numa instituição para os idosos.

A Dra. Ana Maria Abreu começou a sua intervenção com uma pergunta: “O que significa ser mulher?”, indicando que antes de pensar no papel da mulher na Igreja, é importante compreender o que significa ser mulher. Ela recordou que a Bíblia identifica dois modelos de mulher, em duas mulheres concebidas sem pecado original: Eva e Maria, a mãe de Jesus.

O livro de Génesis relata que Eva não se rendeu com confiança ao plano que Deus lhe apresentou, porque queria ter um papel de liderança, deixando-se seduzir pela tentação de ter todo o conhecimento e acabando por quebrar a sua relação com Deus. Não foi capaz de aceitar algo que lhe era proibido e que talvez lhe fosse revelado na altura certa. Maria, por outro lado, entregou-se confiantemente ao plano de Deus, apesar de ter um desafio muito mais radical e ousado do que Eva, pois ser mãe solteira na sociedade judaica da época era arriscar a morte, bem como um mal-entendido generalizado. Maria também estava curiosa em saber – “Como será isto? -, mas ela aceitou um papel de complementaridade com São José, submetendo-se confiantemente aos muitos contratempos que surgiram. Isto não significa – salientou o orador – que Maria não fosse capaz de iniciativa e acção, como mostram os episódios da perda e descoberta de Jesus no Templo e o Casamento em Caná.

A Dra. Ana Maria Abreu salientou que não estava a defender que as mulheres deveriam assumir uma mímica com os homens, mas que, pelo contrário, deveriam preservar e valorizar as suas diferenças, o que não seria contraditório com a luta pela igualdade com os homens em termos de dignidade e direitos.

A Dra. Ana Maria Abreu continuou a apontar algumas características que são geralmente mais evidentes nas mulheres (tendo explicado que isto não significa que os homens também não as tenham em certa medida) e que, na sua opinião, as mulheres (e a sociedade em geral) deveriam valorizar em vez de depreciar devido à pressão social para imitarem o modelo masculino.

A oradora partilhou que ao preparar a palestra teve em mente a sua referência ao período da Quaresma, que a levou a reflectir sobre o papel das mulheres na época da Paixão de Cristo, observando que não havia mulheres presentes na Transfiguração do Senhor e que apesar disso, no momento de maior desânimo, elas não fugiram (como os homens), não negaram, mas permaneceram com Ele até ao fim, devido ao grande zelo amoroso que n’Ele nutriam. Isto levou-a a concordar com o Papa Francisco quando este diz que é por isso que as mulheres foram as primeiras a receber a Boa Nova da Ressurreição.

Na parte final da sua intervenção, a Dra. Ana Maria Abreu Ana Maria Abreu recordou algumas mulheres santas que marcaram a Igreja e a humanidade.

No final da conferência, Cristóvão Faria cantou uma bela canção mariana e o Padre Marçal saudou os presentes, agradeceu aos colaboradores na organização da conferência e expressou o seu apreço pela presença e comunicação do orador.

 

3ª Conferência: Os Desafios do Mistério do Amor. Pelo Dr. Guilherme Abreu

No dia 12 de Março de 2023, numa tarde que já anunciava a Primavera, mais de cem pessoas reuniram-se no Auditório Claret do Santuário do Coração de Maria, em Carvalhos, para assistir à terceira Conferência Quaresmal, que teve como orador o psicólogo clínico Dr. Guilherme Abreu, que apresentou uma reflexão sobre o tema “Os Desafios do Mistério do Amor”.

Como habitualmente, a sessão começou com uma canção, desta vez cantada e interpretada pelo casal Mariana e Leandro, cujo refrão estava relacionado com o tema da sessão: “Posso ir muito além de onde estou, pondo as asas do Senhor…”.

Seguiu-se a apresentação do orador pelo Dr. Ricardo Matias, que, após um breve resumo do curriculum vitae do orador, lhe deu a palavra.

O Dr. Guilherme Abreu começou por se referir à etimologia das palavras que compõem a expressão “mistério amoroso”, já que em grego a palavra “mistério” está associada ao significado de “cerimónia secreta” e a palavra “amoroso” tem uma boa tradução na expressão de Luís de Camões: “fogo que arde sem ser visto”. Ambos estão unidos na ideia do invisível, do escondido, do que não pode ser visto, do que não pode ser alcançado directamente. Esta ideia marcou o fio condutor de toda a comunicação. A partir dela recordou a leitura ouvida na liturgia da Quarta-feira de Cinzas, na qual Jesus aconselha a rezar na intimidade do lugar secreto, e referiu-se ao livro do Papa Bento XVI (escrito antes da sua investidura papal) – “Introduction to Christianity” – que se refere à “gravidade material” das pessoas, ou seja, à tendência humana para se concentrar no tangível, que deve ser superada pela fé se quisermos penetrar no mistério.

O Dr. Guilherme Abreu advertiu que as suas palavras não devem ser interpretadas como se o visível não fosse importante, e neste sentido recordou o que está escrito no Livro do Génesis quando Deus termina a criação do mundo: “Deus viu que era bom” (Gn 1,21). O próprio Jesus não era apenas um ser espiritual, mas o Homem e Deus, pelo que a forma visível também é importante. Para o orador, a fé é a ponte que une o visível e o invisível, o concreto e o mistério, contradizendo a visão maniqueísta que coloca a ênfase no espírito, desprezando o corpo. Citando o escritor Gilbert Keith Chesterton, o orador salientou que “existe uma verdadeira ponte entre o espírito e a realidade” e que, na sua opinião, essa ponte é a fé. Por conseguinte, ele acredita que é dever do cristão dar alma à realidade através da fé.

O orador também explicou que Deus não nos leva ao mistério para nos prejudicar, mas porque quer que nos juntemos a Ele, para nos integrarmos na própria dinâmica do mistério, confiando humildemente (“felizes são aqueles que acreditam sem ter visto”). Por outras palavras, aqueles que acreditam sem ter visto já estão a integrar o mistério, estão a aproximar-se da realidade divina.

O orador referiu-se então às características do mistério de Deus, sublinhando que as cartas de S. João revelam a densidade deste mistério ao introduzir uma nova ideia do Divino, um Deus que é Amor e que, sendo Deus, não é uma abstracção invisível, uma vez que estar ligado a Ele implica ao mesmo tempo estar ligado ao outro. Neste ponto, o orador resumiu-o em cinco pontos para indicar os desafios essenciais do mistério do amor.

A conversa terminou com Mariana e Leandro cantando uma segunda canção, o que de certa forma prolongou a palestra do Dr. Guilherme de Abreu: “Como desejar, onde desejar, quando desejar, sem hesitar, sem temer nada, estar disponível, como o seu filho…”.

Finalmente, o Padre Marçal Pereira despediu-se definitivamente, agradecendo ao orador, à equipa organizadora e aos presentes e convidando-os para a próxima conferência.

 

Informações fornecidas por José Manuel Cruz

 

– Clique aqui para ler a crónica completa da 1ª Conferência: Sínodo e Dia Mundial da Juventude. Por D. Manuel Linda, Bispo da Diocese do Porto.

– Clicar aqui para ler a crónica completa da 2ª Conferência: O papel da mulher na Igreja. Pela Dra. Ana Maria Abreu.

– Clicar aqui para ler a crónica completa da 3ª Conferência: Os Desafios do Mistério do Amor. Pelo Dr. Guilherme Abreu.

 

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