A alegria de viver

Uma tarde, a Madre Teresa de Calcutá, acompanhada por um sacerdote carmelita, atravessava um parque de Milão. Embrulhado no sobretudo e numa manta, dormia deitado num banco um sem-abrigo: “Carlos, – murmura-lhe o padre, depois de o acordar – trouxe-te um presente, a Madre Teresa. Bem te disse que ela havia de vir fazer-te uma visita”.
Madre Teresa estendeu-lhe a mão, dizendo ao mesmo tempo: “Deus é o teu melhor amigo. Ele nunca te deixará”.
As frases da Madre Teresa costumavam ser deste quilate: breves, concisas, puxadas ao essencial.
– “Tens razão – reagiu o mendigo -. Estou bem convencido disso. Todos me abandonaram, mas Deus não”.
E, de pé, com dignidade, estendeu a mão à Madre Teresa: – “Permita que me apresente. Sou o Carlos. Aqui no parque toda a gente me conhece”.
A Madre Teresa tirou do bolso um rebuçado, que o mendigo, sem cerimónias, meteu logo à boca.
Comentário da Madre Teresa para o seu acompanhante: “Veja, os pobres são tranquilos como crianças, sabem desfrutar de pequenas coisas como um rebuçado. Estes homens são iguais em toda a parte, Milão ou Calcutá, Nova Iorque ou Londres. Comunicam o sorriso e a ternura.”.
Duas verdades inegáveis. A primeira é que a miséria desumaniza, mas a abundância excessiva também não nos torna mais humanos. O economista americano, Kenneth Galbraith, constatava que “o americano médio gasta pelo menos três vezes mais do que precisa para levar uma existência digna. Aquilo que consome a mais, torna-o homem a menos”.
A segunda verdade é que a abundância de bens materiais, só por si, não nos traz a felicidade. Quem viaja por terras da África, da Ásia ou da América Latina, verifica que aqueles povos, menos desenvolvidos e ricos, são mais espontâneos, mais alegres, mais cordiais e hospitaleiros do que a gente americana e europeia, que se afoga em comida, e roupa, e dinheiro, e consumo, e conforto… e em tensões, aborrecimento e dúvidas.
O nosso mundo supercivilizado tem tudo, casas de luxo, carros, propriedades, informação, ciência, espectáculos, desporto. Mas perdeu o sentido da festa, a capacidade de saborear a vida, de conversar e de sorrir, de dormir a sono solto.

Abilio Pina Ribeiro, cmf

 

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