Atardece y mi sombra es alargada
como un beso sediento.
He pisado mi sombra
y se adormece el viento con su brisa.
Encajes de sirenas y corales
engalanan el cielo de mis vértigos
y se apagan los llantos en la orilla
de un horizonte violeta.
Suena a lo lejos el lamento gris
de una guitarra adolescente
y sus ecos reposan en mis labios:
Canción de amor que empuja esta noche
y despierta a la luna para el rito
originario de la sangre.
¡Qué transparente esta tarde sin relieve!
Los árboles con la mirada
hacia un espacio inabarcable.
Los pájaros, de vuelo en vuelo
anidan su reposo.
Camina el hombre pensativo
al hogar de sus miedos.
Y un clamor de silencios habitados
Interrumpe mis verbos.
Dios nos habita. Dios nos reclama
apacentar la luna y las estrellas
y sembrar cada surco de esta tierra
de fértiles semillas y caricias.
La lluvia de amor corre por su cuenta
y la cosecha llega
a tiempo y a destiempo.
Y mañana será otro día
Incierto en sus afanes,
seguro en su sendero.
(En el fondo de las caracolas
Se cobija la noche)
Dios nos habita.
Dios nos recrea.
Dos nos sostiene.
Las Palmas, 2020
Blas Márquez Bernal, cmf
(FOTO: Tincho Franco)
QUÃO TRANSPARENTE É ESTA TARDE SEM RELEVO!
Anoitece e a minha sombra se espalha
como um beijo sedento.
Eu piso a minha sombra
e o vento adormece com a sua brisa.
Cordões de sereias e corais
adornam o céu das minhas vertigens
e os prantos na costa diluem-se
num horizonte violeta.
Soa ao longe o lamento cinzento
de uma jovem guitarra
e os seus ecos repousam nos meus lábios:
Canção de amor que empurra esta noite
e desperta a lua para o rito
originário do sangue.
Quão transparente é esta tarde sem relevo!
As árvores com o seu olhar
em direção a um espaço insondável.
As aves, de voo em voo
aninham-se no seu descanso.
O homem pensativo caminha
para o lar dos seus medos.
E um clamor de silêncios habitados
Interrompe os meus verbos.
Deus habita em nós. Deus pede-nos
para apascentar a lua e as estrelas
e para semear cada sulco desta terra
com sementes férteis e carícias.
A chuva do amor está por tua conta
e a colheita chega
dentro da época e fora dela.
E amanhã será outro dia
incerto nos seus esforços,
seguro no seu caminho.
(No fundo das conchas
A noite está abrigada)
Deus habita em nós.
Deus recria-nos.
Deus sustenta-nos.
Las Palmas, 2020
Blas Márquez Bernal, cmf
(FOTO: Tincho Franco)